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O Contador Tem o Dever de Ser Delator do Seu Cliente. Verdade ou Mentira?

por Gilmar Duarte (enviado por e-mail em 26.01.2015)

As imposições de cima para baixo sempre dão certo quando os subordinados abaixam a cabeça, mas quando decidem lutar contra as injustiças conseguem reverter qualquer processo, independente do estágio em que este se encontra.

Já é do conhecimento de todo contador que, por meio da Lei 9.613/1998, o Governo Federal criou o Conselho de Controle das Atividades Financeiras (COAF) com os objetivos de – ao menos é a justificativa – combater o crime de “lavagem de dinheiro” e o financiamento do terrorismo.

Para alcançar os objetivos de maneira mais fácil e com baixo custo, o Governo Federal arrolou no campo de fiscais, porém sem qualquer remuneração, uma série de profissionais que desempenham atividades não governamentais tais como corretores imobiliários e de seguros, agentes de factoring e os contadores. Isto mesmo, os contadores.

Este rol de profissionais incluía os advogados que, inconformados com a decisão autoritária do Governo Federal, se mobilizaram. “Transformar o advogado em delator de seu próprio cliente é imoral, subverte o sistema de defesa, macula a relação de confiança indispensável à atuação profissional e viola inúmeros princípios constitucionais”, disse Sérgio Rosenthal, criminalista e presidente da Associação dos Advogados de São Paulo.

Os contadores sequer tomaram conhecimento do que estava acontecendo quando se depararam com a Resolução 1.445/2013, do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), que obriga a classe a delatar o próprio cliente. Alguns, injuriados, tentaram se mobilizar, mas já não era mais possível, pois alguns “líderes” da classe já tinham decidido que seria assim mesmo.

Como podemos imaginar que contadores e empresários contábeis que estão nos representando junto ao CFC podem pensar assim, haja vista o exemplo dos advogados que lutaram e não aceitaram esta submissão? Que tipo de representantes são estes que temos lá em cima? Não foi muito difícil descobrir que a maioria é formada por professores que nada tem a perder. Primeiro porque não têm clientes, mas emprego fixo com estabilidade.

Segundo, porque não conhecem a realidade dos serviços de contabilidade e, terceiro, porque não estão comprometidos com a classe. “Os advogados são pessoas físicas que se submetem à regulação de um órgão próprio regulador, que é a Ordem dos Advogados do Brasil”, afirmou Rosenthal. Os contadores também têm um Órgão (CRC), mas precisa de mais sintonia com a base.

E agora? Além do ingrato serviço de delator, quem é que vai remunerar o empresário contábil para executar os serviços de informante para o Governo? O próprio Governo, o nosso cliente ou teremos que, mais uma vez, assumir o prejuízo?

O prazo para a entrega da Declaração Negativa vence no dia 31 de janeiro. Quem não observar a obrigatoriedade poderá ser penalizado pelo COAF com o apoio do CFC.

A classe contábil do Brasil é composta por mais de 300 mil profissionais e 80 mil empresas e se desejar se unir para lutar contra as aberrações propostas pelos nossos “representantes” terá uma força que certamente desconhece. Até onde vamos suportar?

Gilmar Duarte da Silva é contador, diretor do Grupo Dygran, palestrante, autor do livro “Honorários Contábeis” e membro da Copsec do Sescap/PR.

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16 comentários em “O Contador Tem o Dever de Ser Delator do Seu Cliente. Verdade ou Mentira?”

  1. O profissional de contabilidade hoje é um escravo dos governantes, que exigem desses profissionais uma prestação de serviços sem remuneração.
    O profissional de contabilidade não deve ser conivente com um cliente mal intencionado; agora denuncia-lo já é demais. É dever dos profissionais de contabilidade orientar seus clientes quanto a atos ilícitos, e até, se for necessário, não mais prestar serviços para esses clientes, e aí cessa sua responsabilidade. Não podemos perder a confiança que os nossos clientes depositam em nós. Não podemos jamais aceitar esse título de delator.

  2. Não sei nem o que dizer sobre essa atitude do CFC, ao meu ver isso é imoral. não possuem o “sangue” da CLASSE CONTÁBIL.

  3. mais uma vez somos obrigados a fazer um serviço que não é dever nosso , como podemos delatar alguma coisa para facilitar o trabalho de deveria ser do estado ?

  4. Prezados Colegas , bom dia !
    Aberração e descomprometimento com a classe , falta de respeito…. È revoltante !
    Att. Valter Veiga – Contador .025.803/O-8 CRCRJ
    (21)988656502 – 24829260 .

  5. O Estado está nos transformando em escravos, trabalhamos sem sequer uma remuneração.

    O dia em que o contador acordar e entender o quanto é importante, verá a força que tem.

    Parabéns pelo artigo.

  6. Faz tempo que o CFC deixou de defender os interesses da Classe Contábil, e parece que virou um representante do Governo…é LAMENTÁVEL !!!!!!

  7. No artigo “O Contador Tem o Dever de Ser Delator do Seu Cliente. Verdade ou Mentira?” do contador Gilmar Duarte retrata perfeitamente a obrigação inusitada que o governo impôs aos contabilistas. É o cúmulo da falta de hombridade e, por que não, até de ética o CFC aceitar tal aberração. A nossa classe precisa de mais união e cobrar aos CRCs, Sindicatos e Associações, para que pressionem o CFC no sentido de retirar de nossa profissão a cognome de “dedo duro”.
    A única maneira possível da classe “colaborar” com o governo, no sentido da Lei que nos foi imposta, de forma legal, limpa e ética seria se fossemos contratados pelo governo e não pelas entidades que nos pagam e nos repassam todos os seus fatos contábeis.

  8. Na realidade nem todos os contadores são pacíficos às normas autoritárias de um governo tirano. Há exceções! Claro que o CFC, infelizmente, padece de uma liderança mais efetiva que busque realmente atender aos objetivos de toda classe contábil.
    Fizemos, diretamente do CRC-PR, um abaixo assinado conclamando para que esse absurdo escravagista deixasse de atemorizar aos profissionais que são zelosos no trato dos negócios de seus clientes.
    É o Contador quem melhor assessora seu cliente, ainda que a maioria deles (empresários) não mereçam qualquer atenção maior.
    Sou de uma geração na qual os contadores e, especialmente, os auditores, ficam atentos a todas as movimentações realizadas nas empresas às quais trabalhamos, alertando constantemente sobre as eventuais atividades que impliquem em risco ou possam causar perdas significativas nos negócios.
    É uma forma – vergonhosa – pela qual o COAF busca desviar a atenção sobre sua incompetência e incapacidade em administrar todas as informações que lhe são passadas – principalmente pelo BACEN – das operações realizadas com a denominação de “atípicas”.
    Como podem explicar a grande quantidade de dinheiro físico que vem sendo, seguidamente, encontrado pela Polícia Federal quando resolve investigar políticos de um modo geral?
    Onde está a punição para governadores que desviam de forma notória valores para seu próprio proveito. Pelo que vejo o Governador do DF continua sem qualquer menção como responsável pelos graves casos que aconteceram em Brasília.
    Até a mídia se cala… Coloca notícias de menor importância – ainda que haja maior apelo junto ao público em geral, que é sedento de más notícias…
    Meu caro Gilmar Duarte, concordo plenamente com o seu texto e sua denúncia. Acho uma vergonha sermos, nós Contadores, representados por pessoas tão diminutas diante do “poder” que exala e nos intoxica…

  9. Parabéns Gilmar, estes nossos “representantes” mais uma vez se mostraram uns teóricos, portanto não poderiam ocupar os cargos que ocupam para quererem nos representar. Para mim são uns bandos de políticos que querem se mostrar para os “governantes” que estão aí, para quem sabe daqui a pouco se darem bem. Veja quantos destes se candidataram nas últimas eleições, aqui em Brasília foram muitos.
    Fico com vergonha desta classe que “me representa”.
    Marcus

  10. Tenho esta mesma visão, acho que enquanto tivermos representantes que não tem relação alguma com a atividade contábil, só estão lá por terem um registro, não teremos nossa profissão reconhecida e valorizada.
    Sonho com o dia em que o CFC e os CRCs, mudarem a atual visão de submissão e passarem a influenciar e quando necessário, se opor as mudanças que venham impor aos contabilistas trabalho voluntario compulsório.
    Infelizmente cada vez mais estamos trabalhando para o governo sem remuneração, e o pior, ameaçados com multas pesadas, caso não sejam atendidas no prazo todas as obrigações acessórias existentes e as novas que vão sendo acrescentadas.
    Devido a visão míope de nossos lideres, que permitem que o governo imponha, ao seu belo prazer, todo o tipo de mudança, isso esta em pactando no aumento nas horas que o profissional trabalha, mas Eles, acreditam, que fiscalizando e punindo os profissionais que não se submetem as exigências descabidas, estejam valorizando a profissão.

  11. Um artigo que expõe algumas das Verdades e muitas das Mentiras que falam sobre a Contabilidade. A questão do COAF é um dos maiores absurdos estabelecidos por um órgão regulador. Atribuir ao profissional que identifique, avalie e informe operações financeiras feitas por seus clientes com determinadas características e impondo pesadas multas aos profissionais é uma grande COAÇÃO de efeitos irreparáveis.
    Essas operações financeiras são da responsabilidade do próprio COAF. Não há como atribuir – infelizmente com o silêncio absurdo do CFC – responsabilidade aos Contadores, Auditores e Assessores Empresariais. Afinal é o COAF que estabelece as leis e ele GANHA para fazer isso. Há uma total inversão de valores que leva a verdadeira VERDADE ao ralo ou à vala comum em que governantes fascistas enterram seus muitos “mortos”…

  12. São sindicatos e associações quem escolhe os membros do CFC, temos de descobrir e pressionar pela troca dos conselheiros. Estive numa convenção em SP, foi apresentado a perversa novidade de 300 profissionais presentes eu fui o único que questionou o resto se calaram

  13. Falou tudo Gilmar. Parabéns pela matéria. Infelizmente os CRCs da vida só se lembram do contador quando se aproxima a data de vencimento da anuidade ou das eleições do corpo administrativo dessas entidades (deixe de votar e veja o que acontece). Na minha opinião, CRC e CFC estão no passivo faz tempo.

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